Em meio à pandemia de covid-19 no Brasil, uma a cada quatro mulheres a partir dos 16 anos afirma ter sido vítima de algum tipo de violência nos últimos 12 meses, segundo pesquisa divulgada nesta segunda-feira, 7, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O levantamento também aponta que o País registrou, em média, oito mulheres agredidas fisicamente por minuto.
Segundo o levantamento, 24,4% das participantes relataram ter sofrido violência no último ano – índice que equivaleria a cerca de 17 milhões de mulheres no Brasil. Comparado à edição anterior, o resultado manteve-se estável, apesar de ter crescido a percepção de que a violência de gênero aumentou no período. Em 2019, a prevalência indicada foi ligeiramente maior, de 27,4%, mas a diferença está dentro da margem de erro de 3 pontos porcentuais da pesquisa.
Uma das hipóteses para explicar esse empate técnico passa por entender como a crise sanitária impactou no contexto das mulheres. “Em comparação a 2019, há uma queda de 29% para 19% da violência praticada nas ruas, mas ao mesmo tempo subiu de 42% para 49% nos domicílios”, analisa Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum e uma das cinco pesquisadoras que conduziram o estudo. “Já aqueles casos em bar, balada, faculdade quase desaparecem agora, por causa da pandemia.”
Em sete a cada dez ocorrências, o autor é uma pessoa conhecida – principalmente companheiros (25,4%) ou ex-companheiros (18,1%). Esta edição da pesquisa, no entanto, detectou aumento da participação de familiares, como pais, mães, irmãos e filhos, entre os agressores. “Os dados levam a crer que violência está, cada vez mais, dentro da casa das pessoas”, avalia a diretora-executiva do Fórum.
Estudiosos do tema são unânimes em afirmar que a violência contra mulheres tende a acontecer em escalada. Via de regra, ela inicia com ofensas no dia-a-dia e pressões psicológicas que evoluem para espancamentos ou até feminicídio. De acordo com o levantamento, a forma mais comum é a ofensa verbal, apontada por 18,6% das entrevistadas. Pela projeção, isso totalizaria 13 milhões de mulheres que foram alvo de insultos, xingamentos ou humilhações no último ano no País.
Já 6,3%, ou o equivalente a 4,3 milhões, afirmaram ter sido alvo de agressão física, com tapas, empurrões ou chutes. Para 2,4% das mulheres brasileiras (1,6 milhão), a violência atingiu formas mais graves, como espancamentos ou tentativas de estrangulamento. Por sua vez, 5,4% foram vítimas de ofensa sexual ou tentativa forçada de manter relação e 3,1% sofreram ameaças com faca ou arma de fogo. Esses contingentes equivalem a 3,7 milhões e 2,1 milhões, respectivamente.
Segundo o estudo, a reação mais comum após sofrer agressão mais grave é, na prática, “não fazer nada”. Essa foi a resposta de 44,9% das vítimas. As alternativas que aparecem logo na sequência foram procurar ajuda da família (22%) ou de amigos (13%). Só 12% prestaram denúncia em delegacias especializadas e 7% acionaram a Polícia Militar. Entre as que optaram por não tomar providência, 32,8% alegaram que poderiam resolver o conflito sozinhas, 16,8% julgaram que o caso não era importante a ponto de envolver a polícia. Para 13,4%, a justificativa foi medo de represália do agressor.