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Pandemia reduziu renda de 49,3% dos músicos a um salário mínimo

Pesquisa da UFMG revela os impactos que a crise da Covid-19 provocou no setor musical de BH, com muitos artistas precisando mudar de profissão ou se adaptar ao universo online
Fonte: O Tempo
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O Cantor e compositor Marcos Catarina, 44, ficou sem trabalho por causa do fechamento dos bares

 

“Pensei muitas vezes em desistir”. É assim, em tom de abatimento, que o cantor e compositor Marcos Catarina, 44, define os efeitos que o período de atividades interrompidas por causa do novo coronavírus causaram em sua vida profissional.

Desde que a pandemia teve início, no ano passado, conseguir trabalho se tornou um problema quase impossível de se contornar.

“No início fiquei totalmente parado. Depois tentei me adaptar, buscando outras possibilidades dentro da música, e fui fazer lives, dar aulas remotas. Mas, na maioria das vezes, não consegui retorno financeiro. Ficar sem aquilo que é seu principal trabalho cria um abismo, um buraco na alma”, lamenta.

O cantor divide a mesma realidade com outros profissionais da indústria da música ao vivo em Belo Horizonte que dependem dos cachês de shows para a sobrevivência. Afastados por mais de um ano dos palcos, esses artistas sofreram considerável redução em seus faturamentos e foram forçados a buscar outros meios de remuneração – tendo muitas vezes que encarar os desafios da adaptação ao universo virtual.

Atrás de soluções para resistir a este momento único, Marcos foi um dos músicos que participaram de uma pesquisa realizada pelo Escutas – grupo de pesquisa em sonoridades, comunicação, textualidades e sociabilidade do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) –, que mostra o impacto negativo que o fechamento de bares e casas de shows e o cancelamento de eventos como o Carnaval trouxeram para a cadeia produtiva na cidade.

Realizado entre os meses de agosto e outubro de 2020, o estudo traduz em números e dados a situação vivida pelo segmento: 43,9% dos profissionais da música na capital mineira viram sua renda mensal despencar para o equivalente a um salário mínimo (R$ 1.045). Pior: antes da pandemia, apenas 5,8% dos entrevistados ganhavam mensalmente essa quantia.

Para a coordenadora da pesquisa, a professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG, Graziela Mello Vianna, o levantamento – que ouviu 171 profissionais da música –, mostra “as dificuldades enfrentadas pelo meio para superar o contexto da pandemia”.

“É um estudo qualitativo. Trabalhamos com uma amostragem pequena, porém as respostas dizem muito sobre como esses profissionais têm sobrevivido neste período. É um raio-x que apresenta o grupo tentando se adaptar às novas atividades musicais dentro do modo remoto. Muitos precisaram escolher ocupações não musicais ou abandonar completamente a carreira artística”, observa.

A pesquisa identificou ainda que a crise teve efeitos mais profundos para trabalhadores do mercado musical que fazem parte de minorias sociais. Dentre os profissionais negros entrevistados – que representam 37,4% do total de participantes –, a metade disse ter recebido somente um salário mínimo mensal tanto antes quanto depois da pandemia.

 

 

“Embora os profissionais brancos também tenham sofrido uma redução significativa em sua renda, é visível a predominância das pessoas negras nas faixas de renda mais baixas e sua presença consideravelmente menor entre as rendas superiores. Isso tanto no cenário anterior quanto no contexto da pandemia”, explica Graziela.

De acordo com a professora, esse resultado está relacionado com o papel do racismo estrutural na renda dos profissionais do meio musical da cidade, algo que já era recorrente antes da crise do Covid. “Com a pandemia, a situação se agrava porque essa instabilidade financeira impacta diretamente a capacidade reduzida de investimento em equipamentos e tecnologias para transmissão em modo remoto, estudo e qualificação na área”, complementa.

 

Próxima etapa do estudo 

 

Os resultados da pesquisa foram publicados em uma edição especial da revista internacional “Frontiers in Sociology”, que dedicou um volume especial a estudos referentes aos impactos da pandemia na música em todo o mundo.

Em uma próxima etapa, o estudo vai investigar questões específicas que surgiram durante a primeira fase do projeto, como o impacto das leis de incentivo à cultura e o desafio da barreira tecnológica do virtual.

 

Um repertório de alternativas contra a crise 

 

Assim como praticamente todos os músicos da cidade, o guitarrista e produtor musical Ian Guedes, 40, precisou recorrer à reinvenção durante o lockdown. Na estrada desde os 17 anos, ele tinha 80% de sua renda dependente de apresentações ao vivo.

No entanto, desde o início da quarentena, em março de 2020, ele precisou reformular sua agenda de trabalho e passou a ministrar aulas virtuais de música e fazer lives. Após as restrições, seu salário caiu cerca de 50%.

“A falta de shows me apertou muito porque é a fonte de renda que me traz mais receita. Eu fiquei bastante desmotivado no início, muito preocupado. Mas a gente vai entendendo devagar, vai vivendo, vai vendo outras oportunidades – como aulas online –, e com o tempo eu fui me tranquilizando mais”, relata.

Quem também teve que buscar outra atividade além da música foi o violonista, cantor e compositor Juliano Bueno, 49, também conhecido como Jubah. Com o salário reduzido em 70% e acostumado a se apresentar em bares, festas e festivais, Jubah se dedicou exclusivamente a dar aulas de violão online – e precisou ainda recorrer ao auxílio emergencial para completar sua renda.

“Com a pandemia, o trabalho ficou comprometido por mais de 15 meses. Todos os projetos marcados que eu já tinha foram cancelados. Fiquei muito assustado com aquilo tudo. Passei dificuldades e precisei do auxílio emergencial do governo federal para sobreviver. Tive que me virar como podia”, relembra.

Apesar dos passos para trás, Jubah agora se apega à liberação dos eventos na cidade para retomar a carreira. “Com a flexibilização da quarentena, já estamos retornando aos shows, e a renda começou a subir um pouquinho. Meu sonho é ver toda a população vacinada para que tudo volte a ser como era. Vai ser só alegria”, confia o músico.

 

 

 

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