O caos hospitalar, decorrente da pandemia da Covid-19 no Brasil, está favorecendo condições para o desenvolvimento do superfungo – o Candida auris, um fungo emergente que representa uma grave ameaça à saúde global e foi identificado, pela primeira vez, como causador de doença em humanos em 2009, no Japão.
O codinome superfungo se dá pelos atributos potentes do microrganismo: rapidez para se desenvolver, sobrevive em superfícies por longos períodos, não é eliminado com detergentes e desinfetantes comuns e tem resistência aos principais medicamentos destinados ao seu combate.
Conforme relatado pelo Uol, os primeiros casos de contaminação do superfungo, no Brasil, ocorreram em dezembro passado, em um hospital de Salvador (BA). Estes casos iniciais foram estudados por pesquisadores brasileiros, que passaram a monitorar a evolução do fungo em pacientes internados.
A pesquisa foi liderada por Arnaldo Colombo, que coordena o Laboratório Especial de Micologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele pontuou que, posteriormente, mais nove casos da infecção foram identificados no mesmo hospital. E, embora ainda não haja confirmação de pessoas infectadas em outras regiões do País, o superfungo traz grande preocupação.
Essa preocupação do pesquisador se dá em vista da resistência que o fungo tem ao fluconazol e ao equinocandinas – principal grupo de fármaco usado para tratar a candidíase invasina.
Entre os fatores que tornam os pacientes infectados pelo novo coronavírus propensos à contaminação para a C. auris estão a internação prolongada, o uso de sondas vesicais e cateteres para acesso venoso central, corticoides e antibióticos.
“O próprio vírus pode causar lesões na mucosa do intestino de pacientes com formas graves da Covid-19, facilitando o acesso de patógenos à corrente sanguínea, predispondo o paciente à candidemia”, explicou Colombo.
Em vista disso, ele alerta para a necessidade de intensificar as ações para controle de infecção hospitalar em todo o Brasil e, também, promover o uso racional de medicamentos antimicrobianos em unidades de terapia intensiva.
Fungo negro e novas infecções
A preocupação com o avanço de novas infecções decorrentes da Covid-19 não se limita apenas ao superfungo no Brasil. Na Índia, a preocupação das autoridades sanitárias é com o fungo negro, uma infecção com alta letalidade e com severas complicações ao organismo, com capacidade até mesmo de atingir o cérebro. O país já passou a monitorar a doença e estuda decretar situação de epidemia em vista do avanço dos casos e de vítimas. Veja matéria completa aqui.
A explicação para o surgimento dessas e outras infecções, segundo o farmacêutico e professor da Pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Rafael Poloni, pode estar relacionada com a vulnerabilidade do sistema imunológico dos pacientes com Covid-19.
“A infecção pelo novo coronavírus, apesar de suas particularidades, muitas delas ainda não apontadas pela comunidade científica, depende do sistema imunológico para ser reduzida e, posteriormente, sanada. Sendo assim, caso o sistema imunológico do indivíduo esteja fragilizado ou ineficiente, estará mais suscetível a quaisquer infecções”.