O retorno às aulas presenciais em todos os níveis educacionais é uma ação prioritária, urgente e imediata, afirmou o Conselho Nacional de Educação (CNE) em resolução publicada neste mês do “Diário Oficial da União”. Mas essa volta ao ambiente escolar não acontece de maneira homogênea no país, devido às mais diferentes realidades epidemiológicas, a greves de professores e aos variados ritmos de vacinação. Quanto mais demorado é o retorno à sala de aula, mais complicado fica cumprir as 800 horas-aula obrigatórias por lei.
Se todos os alunos de Minas Gerais voltassem hoje às aulas presenciais, poderiam contar com cerca de 300 horas-aula até o fim de novembro – pouco mais de um terço da meta estipulada pelo Ministério da Educação. De acordo com a resolução do CNE, “a integralização da carga horária mínima do ano letivo afetado pela pandemia po- de ser efetivada no ano subsequente”. Mas não será fácil levar para 2022 um conteúdo que já vem se acumulando desde 2020, especialmente para os muitos estudantes de escolas públicas que não puderam acompanhar as aulas remotas, por não terem acesso a equipamentos ou internet de qualidade.
Em Contagem, cidade que planeja um retorno gradual entre agosto e setembro entre os níveis educacionais da rede pública e convive com uma greve sanitária dos professores, a evasão é de 1,44% no ensino médio e 6% no ensino fundamental. De acordo com o município, há um trabalho de busca ativa por ligação telefônica, e-mail, WhatsApp e outros meio eletrônicos. Se a escola não consegue contatar a família, a Secretaria de Educação faz uma busca intersetorial, contando com a ajuda de Conselho Tutelar, regionais, CadÚnico e Centro de Referência de Assistência Social (Cras).
As aulas para o ensino fundamental em Contagem só começam no dia 8 de setembro, mas talvez nem todos professores estejam em sala de aula, pois a categoria está em greve. A coordenadora geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE) no município, Patricia Pereira, afirma que não há segurança sanitária nas escolas e no trajeto para o trabalho e que as aulas deveriam voltar quando 80% da população estiver totalmente imunizada. Os professores realizam uma assembleia na manhã de hoje.
No Estado. Na rede estadual, as aulas presenciais pude- ram ser retomadas ontem, após uma conciliação entre professores e Estado. A Secretaria de Estado de Educação (SEE) afirma ter reforçado o trabalho de busca ativa durante a pandemia. A pasta informou que, entre os meses de maio e junho deste ano, 45 mil estudantes foram localizados e retomaram as atividades na escola.
No ano passado, foram 30 mil jovens, de um universo de 1,7 milhão de alunos matriculados na rede estadual. De acordo com a pasta, a busca é feita por contatos telefônicos, mensagens ou até visitas presenciais.
Incompleto
Pelo caminho. Mais da metade (51,2%) dos adultos brasileiros não concluiu o ensino médio, segundo dados do IBGE. O levantamento é do ano passado.
Preocupação maior é com os alunos a partir do 9º ano
Neste momento em que os alunos retornam gradualmente ao ambiente escolar, o esforço deve ser voltado para o diagnóstico individual de aprendizado e para a retomada de conteúdos que precisam ser revistos. A preocupação maior é com os alunos do 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio, que precisam estar bem preparados para a mudança de ciclo. De acordo com a resolução do CNE, “são necessárias medidas específicas definidas pelos sistemas de ensino, redes e instituições escolares, de modo a garantir aos estudantes a possibilidade de conclusão do aprendizado da respectiva etapa da educação básica”.
A recomposição das horas perdidas é o maior desafio para as escolas no momento, segundo o professor da Faculdade de Educação da UFMG Walter Ude Marques. “A gente sabe que não tem como repor o prejuízo causado, a gente vê crianças e até mesmo adolescentes com dificuldade na escrita, na linguagem”, avalia o professor. “É na escola que as famílias, principalmente, mais periféricas encontram opções de lazer e até mesmo referência de autoridade, que é o professor”, completa.
Para ele, o abismo social tende a se ampliar pelos problemas educacionais. “Com a escolaridade defasada, futuramente vamos perceber ainda mais a lacuna que os alunos mais carentes vão ter para acessar o ensino superior. Isso sempre aconteceu, mas nessa geração a lacuna será muito maior”, completa.