A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) tem promovido diversas ações junto a produtores para diminuir os efeitos da redução de água nas propriedades rurais do Sudoeste de Minas. O Lago de Furnas, por exemplo, encerrou junho com menos de 30% da capacidade, o que tem afetado municípios do entorno e atividades econômicas, como turismo, piscicultura e agricultura.
A escassez de água na região acompanha a crise hídrica histórica pela qual passa o Brasil. De acordo com o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, o último período chuvoso foi o mais seco em 91 anos no país. Devido à irregularidade das chuvas, os reservatórios estão em níveis muito baixos, com várias perdas registradas para produtores e outras atividades.
Suporte
“Na região de Passos, temos feito vários trabalhos, tanto em parceria com prefeituras e municípios como com outros parceiros, como a Copasa e a Agência Nacional de Águas (ANA)”, afirma a coordenadora regional de Meio Ambiente da Emater-MG em Passos, Alice Soares. Segundo ela, as crises hídricas têm se acentuado muito nos últimos tempos no Sudeste do país e também no Sudoeste do estado.
Uma dessas iniciativas é o projeto Produtor de Águas, parceria com a ANA e prefeituras, que está sendo desenvolvido nos municípios de Passos, Capitólio, Piumhi, Doresópolis e Pimenta. “A proteção de nascentes e áreas de recarga, o manejo de solo e a conservação de estradas vicinais são algumas das atividades feitas. O programa Produtor de Águas prevê também o pagamento de serviços ambientais aos produtores que aderirem ao projeto. É um avanço, porque o programa reconhece que, ao promover ações de mitigação dos impactos das mudanças climáticas, os agricultores estão contribuindo para a melhoria da quantidade e da qualidade da água para toda a sociedade”, explica a coordenadora.
Outro trabalho ambiental importante é a parceria com a Copasa no programa Pró-Mananciais. O projeto é desenvolvido em Capitólio, Cássia, Carmo do Rio Claro e Itaú e tem o objetivo de recuperar e manter as Áreas de Preservação Permanente. “Também ministramos vários cursos de conservação de estradas rurais para funcionários de prefeituras da região. As estradas rurais mal conservadas são sérios agentes poluidores, causando o assoreamento de cursos d’água”, afirma Alice Soares.
Todos podem ajudar
A coordenadora da Emater-MG lembra que qualquer produtor pode ajudar no trabalho de preservação da água, fazendo bom uso do solo com técnicas de manejo e conservação. Entre essas técnicas estão o plantio em nível, a construção de terraços, a conservação da vegetação nativa, principalmente em áreas de recarga como topos de morro, a proteção de nascentes, além da rotação de pastagens e da construção de piquetes para diminuir a compactação do solo.
“Todas essas técnicas ajudam a promover a infiltração da água, abastecendo os lençóis subterrâneos e aumentando a quantidade hídrica disponível, tanto na propriedade como na bacia hidrográfica que o terreno se insere”, explica Alice Soares.
Já alguns erros bastante comuns em propriedades rurais contribuem para a diminuição da água em fazendas. “O maior problema encontrado é o mau uso do solo. Em solos compactados não ocorre a infiltração da água. As pastagens mal manejadas e solos descobertos também são graves problemas. A cobertura do solo contribui muito para a infiltração da água; ela diminui o impacto da chuva, promove a descompactação do terreno, propicia uma atividade biológica mais forte, melhorando a qualidade das raízes. Assim, a água se infiltra com mais facilidade, abastecendo o lençol subterrâneo”, indica a extensionista.
Lama
O Lago de Furnas é um dos maiores reservatórios de água do Brasil e possui uma área inundada de 1.440 quilômetros quadrados, que abrange 34 municípios de Minas Gerais. A população local é de cerca de 800 mil habitantes, que dependem direta ou indiretamente das águas do reservatório. Em muitos lugares, o lago, conhecido como “Mar de Minas”, chegou a recuar cerca de oito quilômetros, dando lugar a pasto e lama.
A crise hídrica atual e seus impactos confirmam os prognósticos do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC), que deve finalizar, em breve, seu sexto relatório, com a participação de mais de três mil cientistas.
Segundo os pesquisadores, com as mudanças climáticas, eventos extremos vão se tornar mais frequentes – e mais intensos – em todo o mundo. Como estamos no início do período seco, a tendência é de que a situação de baixa disponibilidade de água se agrave nos próximos meses. “A previsão é de pouca chuva até novembro. Se agora já estamos com o reservatório tão baixo, imagine daqui a alguns meses. Então, o cenário é muito preocupante”, alerta o secretário-executivo da Associação dos Municípios do Lago de Furnas (Alago), Fausto Costa.