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Casos de intolerância religiosa crescem 23% em Minas Gerais

Praticantes do candomblé e umbanda reclamam da sensação de impunidade pelos crimes cometidos
Fonte: Redação / O Tempo
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Ataques preconceituosos fizeram o pai de santo Bruno Marques cogitar fechar o terreiro na região Noroeste de BH

 

O recente título da Grande Rio de campeã do Carnaval carioca com o enredo sobre Exu, um dos orixás do candomblé, trouxe à tona o importante debate sobre a intolerância religiosa, que avança em Minas, conforme dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG). Segundo a secretaria, somente em 2021 foram 96 registros de crimes com causa presumida de preconceito religioso contra 78 casos em 2020.

As religiões de matrizes africanas são alvos dos ataques, em sua maioria, e, segundo especialista, a sensação de impunidade, aliada com a intolerância cada vez mais presente na sociedade ajudam a explicar os números. Quem faz parte desta estatística é o sacerdote candomblecista Alexandre Magno Abreu, 35. Durante a inauguração da praça dos Orixás, em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, fiéis de outra religião levaram caixas de som na tentativa de impedir o ato.

“Começaram a falar que a cidade era de Deus e não do diabo. Fizeram até abaixo assinado, só não conseguiram mudar o nome porque a lei, que determinava a mudança, já tinha sido aprovada na Câmara Municipal e sancionada pelo prefeito”, contou.

Os exemplos de preconceito religioso se estendem. “Temos uma vizinha que é assumidamente evangélica. Sempre que iniciamos nossos trabalhos, ela coloca louvor e música alta. Sofremos com este tipo de ataque sempre”, comenta o pai de santo Bruno Vieira Marques, 27.

Os ataques deixam marcas profundas. Tanto que Marques chegou a cogitar fechar seu terreiro no bairro Padre Eustáquio, região Noroeste de BH, e ficou com as atividades suspensas por dois meses. “Tive crises de ansiedade, medo das agressões tomarem outras proporções. Me sentia invadido. É uma sensação de vulnerabilidade, tristeza e medo”, relata Marques.

Análise

O aumento de casos registrados escancara, segundo a socióloga Ana Lúcia Modesto, a intolerância cada vez maior na sociedade brasileira. “A religião é só um dos aspectos. O discurso de rejeição ao outro é uma forma de impedir que certas semelhanças venham à tona”, diz a socióloga.

A estudiosa apresentou um dos pontos em comum entre religiões de matrizes africanas e as evangélicas, por exemplo. “Temos manifestações nas igrejas pentecostais da posse do Espírito Santo. Isso também ocorre no candomblé e umbanda. As semelhanças são fortes devido às origens. O discurso intolerante seria como negar as próprias origens, uma espécie de esquizofrenia social”.

Os dados de preconceito religioso tendem a ser muito maiores do que os registrados, conforme analisa Ana. “Muitas coisas ocorrem e não chegam à Justiça. O número que temos é minoritário e a realidade é mais violenta do que os registros das delegacias”, afirma.

A crescente de casos também pode ser entendida por outro fator: sensação de impunidade. “Não há punição e isso incentiva a violência. Quem comete o crime não tem medo de ser penalizado e cumprir pena ou pagar multa, mesmo isso estando previsto em lei. A legislação que pune o racismo religioso teve alteração em 1997. “A lei mudou e a realidade piorou”, destaca.

Radicalismo. Polarização política contribui no avanço do preconceito

O cenário político conturbado no país é outro ponto destacado pela socióloga Ana Lúcia Modesto na busca de respostas para o aumento de casos de preconceito religioso. “Depois da queda da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) tivemos uma reação das camadas conservadoras que, agora, estão assumindo posições mais radicais deixando de lado o discurso cordial. O que era oculto se manifestou e o conflito passou a ser aberto, digamos assim, em vários quesitos”.

Na análise de Ana, a sociedade brasileira está numa “situação de conflito claro e visível”. “O outro passou a ser visto como ameaça. A sociedade está bem fragmentada e conflituosa, o que não aconteceu em décadas anteriores. Existe uma desordem no mundo todo fruto de mudanças dos sistemas políticos e da luta das minorias para conquistar visibilidade e direito”.

Sentindo na pele. O pai de santo Bruno Vieira Marques credita o aumento dos ataques ao atual momento político no país. “Nossos retalhadores assumem ser apoiadores do presidente da República. Percebo que quando temos um governo que não nos apoia, não nos acolhe, acaba indiretamente alimentando o ódio dentro das pessoas. É uma questão político social”.

Lidar com os olhares discriminatórios acompanha o sacerdote candomblecista Alexandre Magno Abreu há anos. “Quando vou ao supermercado com minha roupa branca parece que está passando um bicho. Todo mundo olha. Só que hoje tenho a consciência do que sou e faço. Os olhares e o tratamento diferenciado são inevitáveis”.

Desabafo

“Buscam nos oprimir de todas as formas possíveis: música alta, nos chamam de demônio. Meu espaço é em uma casa alugada e ligam até mesmo para o proprietário.” Bruno Vieira Marques, pai de santo.

“O sentimento que predomina é de raiva. As pessoas fazem julgamento de nós e não respeitam aquilo que consideramos sagrado.” Alexandre Magno Abreu, sacerdote candomblecista.

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Uma resposta

  1. Infelizmente existem pessoas que não sabem se manifestar diante de algo que vai contra aquilo que elas acreditam ser do bem. Atacar piora a convivência. Se quero o bem de alguém que penso estar no caminho errado, devo tratá-lo com amor e respeito. Assim, será mais fácil “convencê-lo” a mudar seus pensamentos.

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