Na praça de pesagem que antes funcionava 24h por dia, a estrutura tomada pelo mato alto e o abandono. Com o fim do contrato com a empresa responsável pelo serviço, o posto de fiscalização localizado na MG 164, entre Bom Despacho e Martinho Campos, no Centro-Oeste de Minas Gerais, está fechado há quase dois anos. O representante comercial Humberto Couto, 49, usa a rodovia todas as semanas e conta que, desde então, as condições do asfalto pioraram muito.
“São muitos buracos por toda a pista, e por aqui passam muitos caminhões carregados com carvão, além de outros produtos. Como não há mais fiscalização, muitos devem rodar acima do peso permitido e isso prejudica a rodovia”, contou. Segundo ele, pequenas obras são comuns, mas bastam poucos meses para o problema voltar. “A rodovia é a principal para o escoamento de cargas das cidades da região, já que vai até a BR-262. Já teve uma época que ficou bastante tempo sem a pesagem e a situação era mesma, até o serviço voltar. É um absurdo”, acrescentou.
E a situação se repete por todo o estado. Desde julho de 2020, das 46 praças de pesagem existentes nas rodovias administradas pelo Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), 42 deixaram de funcionar por conta do fim do período contratual. Atualmente, apenas seis postos fazem a fiscalização nas vias estaduais, sendo dois na MG-050, que está sob concessão e é administrada pela iniciativa privada, e outros quatro na MGC-135, em Mirabela, no Norte de Minas, na MG-290, em Borda da Mata, MG 179, em Pouso Alegre, e LMG-877, em Poços de Caldas, todas no Sul de Minas.
Para o consultor de trânsito Silvestre de Andrade, a situação é crítica, já que as balanças ajudam a manter a qualidade do pavimento, que é direcionado para receber uma determinada quantidade de carga e fluxo de veículos. “Se um desrespeito a esse limite de peso, o desgaste do pavimento é acelerado. Quanto mais carga acima do peso permitido é colocado no caminhão, mais rápido acontece esse processo. E é exponencialmente. Se eu dobrei a carga, quadrupliquei o impacto no pavimento”, explicou.
O especialista lembrou ainda que, normalmente, a pavimentação é projetada para ter uma vida útil de dez anos. Porém, com o excesso de carga, grandes reparos começam a ser necessários em pouco tempo. “O asfalto vai se deteriorando rapidamente e isso tem um impacto nos custos gerais de quem usa a rodovia. Quanto pior o pavimento, maior o custo operacional dos veículos que passam ali. A velocidade é reduzida, há riscos de estourar os pneus e quebrar o veículo”, disse.
Outro problema, segundo Silvestre, é o aumento do risco de acidentes diante da falta de fiscalização. “Quando o caminhão, está com peso acima do dimensionado para o próprio veículo, ele também reduz a sua dirigibilidade. Em uma freada brusca emergencial, há menos condições de dominar o veículo e também a estabilidade reduz. A direção e os amortecedores podem não funcionar corretamente e isso pode causar ocorrências graves”, frisou. Só na região metropolitana de Belo Horizonte, duas praças de pesagem deixaram de funcionar: na LMG 808, em Nova Contagem, e na MG 432, em Esmeraldas.
Infrações por excesso de carga caíram 66% no período
Conforme dados do DER-MG, no primeiro semestre de 2020, quando todas as 46 praças de pesagem estavam em operação, foram fiscalizados 2,3 milhões de veículos de carga e aplicadas 52,5 mil infrações. Já em todo o ano de 2021, com quatro postos, o número de caminhões fiscalizados caiu para um milhão, com 17,7 mil infrações, uma redução de 66% na comparação com o período anterior.
O departamento informou que concluiu os estudos técnicos para o novo processo licitatório e que durante a vigência do contrato a quantidade de praças de pesagem pode subir de 46 para 70, “desde que haja disponibilidade orçamentária”. O órgão alegou ainda que o edital foi publicado no final do ano passado e a abertura das propostas aconteceu na última terça-feira (8), na sede do DER-MG, na região Central de Belo Horizonte, quando 11 empresas demonstraram interesse em pegar a licitação. Os trabalhos para a fase de habilitação da documentação já foram iniciados.
Setor produtivo defende retomada da fiscalização
O consultor técnico do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística do Estado de Minas Gerais, (Setcemg), Luciano Medrado, afirmou que o setor é favorável à fiscalização do excesso de carga nas rodovias para preservar a concorrência. “A pesagem rodoviária é um fator importante para melhorar o nível de qualidade da competição, além de reduzir o número de acidentes e manter as boas condições das estradas”, enfatizou.
Porém, Medrado defendeu que é preciso criar projetos mais modernos para a pesagem dos veículos. “No mundo hoje não se fala mais em balança, a medição já é feita com o veículo em movimento. Já que vai investir, esse sistema seria muito mais vantajoso para todos. Você ganha em produtividade, porque o caminhão não precisa parar para pesar e não compromete o tempo de viagem”, finalizou.
Confira a localização das praças de pesagem paralisadas em Minas
Região metropolitana
Nova Contagem – LMG 808 (km 14)
Esmeraldas – MG 432 (km 6,5)
Centro-Oeste de Minas
Pará de Minas – MG 432 (km 6,5)
São Gonçalo do Pará – MG 430 (km 26,5)
Itaúna – MG 431 (km 54,6)
Cláudio – MG 260 (km 16)
Arcos – MG 170 (km 56,5)
Oliveira – MGC 369 (km 4)
Pedra do Indaiá – MG 164 (km 218)
Córrego Fundo – MG 439 (km 5,8)
Bom Despacho – MG 164 (km 136)
Pompéu – MG 420 (km 14,5)
Região Central
Entre Rios de Minas – BR 383 (km 32)
Zona da Mata
Dona Euzébia – MGC 120 (km 745)
Rio Pomba – MGC 265 (km 109,2)
Rio Casca – MGC 329 (km 104)
Acaiaca – MG 262 (km 30)
Juiz de Fora – LMG 874 (km 5)
Rochedo de Minas – MG 126 (km 36,6)
Palma – MG 285 (km 36,6)
Goianá – MG 353 (km 48,8)
Alto Paranaíba
Ibiá – MG 187 (km 67)
Patos de Minas – MGC 354 (km 171)
Ituiutaba – MGC 154 (km 53,6)
Vale do Jequitinhonha
Diamantina – MGC 367 (km 583)
Triângulo Mineiro
Uberlândia – BR 497 (km 18,5)
Araguari – MG 223 (km 114,5)
Tupaciguara – MGC 452 (km 54,6)
Monte Carmelo – MG 190 (km 21,5) e MG 223 (km 13,8)
Nova Ponte – MG 190 (km 126,3)
Vale do Rio Doce
Dores de Guanhães – MGC 120 (km 356)
Sul de Minas
Lavras – LMG 506 (km 1)
Bom Sucesso – MG 332 (km 6)
Aguanil – MGC 369 (km 77)
Pratápolis – MG 344 (km 82,6)
Alpinópolis – MG 446 (km 7)
Arceburgo – MG 449 (km 9,3)
Noroeste de Minas
Paracatu – MG 189 (km 149)
Nordeste de Minas
Nanuque – BR 418 (km 16,6)