Apesar de a maioria dos diagnósticos estarem associados ao chamado “grupo de risco” – como idade superior a 60 anos ou doenças crônicas –, não é uma regra.
E, para piorar, as internações da faixa fora de risco têm aumentado. Médicos que trabalham na linha de frente acreditam que as flexibilizações e a inconsequência dos jovens resultam na alta de ocupação de leitos. As variantes do novo coronavírus estão atacando a população mais jovem.
”É preciso entender que o risco de morrer ainda é grande. As pessoas não estão protegidas pela idade ou por não pertencer ao grupo de risco”
Fernando Botoni, médico intensivista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG
No entanto, 20% das mortes são de pessoas abaixo dos 60. Em Belo Horizonte, os óbitos de pacientes abaixo dessa faixa correspondem a 16,6%, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
“Muito dificilmente a gente tem uma doença que vai estritamente obedecer somente a uma faixa etária e também à presença ou não de comorbidade. Podemos pensar em uma doença gripal de outra natureza, por exemplo, a influenza, o H1N1, também não tem nenhuma predileção por grupos”, avalia.
“É preciso entender que o risco de morrer ainda é grande. As pessoas não estão protegidas pela idade ou por não pertencer ao grupo de risco de evolução da doença”, alerta.
“Uma porcentagem grande não tem noção que tem, porque são doenças silenciosas em sua grande parte. Quando se manifestam, já é em uma fase tardia. As medidas de saúde pública contribuíram ao longo dos anos, mas principalmente os homens, que buscam menos atenção primária e têm menos atitudes de prevenção, devem ser observados.”
O PERIGO DO DESCUIDO
“A grande parte da internação continua sendo de idosos, mas a idade tem diminuído. A média hoje é de 50 anos, antes era de 70 pra cima. Nesta semana, tivemos três pacientes com menos de 50 que evoluíram com necessidade de internação”, afirma.
“Um fato que está chamando muito a atenção da nossa equipe é a contaminação de adultos jovens, e já há relatos de crianças também contaminadas”, disse.
“Na primeira onda, basicamente os idosos estavam sendo acometidos e chegando à letalidade. Com isso, os adultos jovens relaxaram e passaram a se aglomerar, deixaram as etiquetas respiratórias de lado, a proteção de máscara e outros cuidados.”
“Estão chegando muito graves para nós, em todo o sistema de saúde. Muitos estão sendo entubados, respirando com ajuda de aparelhos e grande parte está sendo letal”, diz o médico, reiterando um apelo: “Devemos ter consciência social, pensar em nós como um todo”, pede o médico.